Foi o deputado federal Jean Wyllys quem cunhou (com perdão do trocadilho) a frase "o delinquente caiu". Por 450 votos SIM, 10 votos NÃO e 9 abstenções, foi aprovado na noite desta segunda-feira, dia 12, o requerimento que pedia a cassação do mandato do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. O pai de todos os golpes. Uma das mais nefastas figuras públicas deste país. A passagem do réu no legislativo brasileiro será lembrada em livros de história. Não pelos feitos, mas por uma trajetória marcada pelo ataque aos direitos humanos, às minorias, aos trabalhadores, às liberdades individuais e à democracia. Cunha caiu por ter mentido sobre as contas na Suíça. Caiu por mentiroso e ladrão. Mas o dano que ele fez à República e ao povo brasileiro foi muito maior, muito mais grave e terá consequências muito mais profundas. Sua queda foi uma vitória conquistada graças à mobilização da sociedade, sobretudo dos trabalhadores.
A cassação de Eduardo Cunha livra o Brasil de sua maior vocação de corrupção na história da República. "Um escroque, um achacador, um mafioso, um ladrão, um mentiroso compulsivo, um destruidor, um psicopata dedicado exclusivamente ao enriquecimento pessoal: de tudo isso os brasileiros se livram de uma só vez", diz o jornalista Paulo Nogueira. Mas há uma pergunta que não quer calar: por que isso só aconteceu depois que Cunha teve todo o tempo para comandar o processo de impeachment de Dilma?
Já se sabiam seus crimes quando ele, inexplicavelmente, continuou na presidência da Câmara dos Deputados no trabalho sujo de destruir 54 milhões de votos e acabar com a democracia. Janot já tinha produzido um documento minucioso em que reivindicava a saída do rei dos corruptos e dos manipuladores.
Os suíços já tinham denunciado as milionárias contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro sujo. Isso pouco depois de Cunha jurar na CPI da Petrobras não ter conta nenhuma fora das declaradas. Mentiu, o que lhe custaria o cargo. E depois tratou os brasileiros como débeis mentais ao afirmar que era “usufrutuário” de um “trust” cujo dinheiro seria originário de negócios que ele “fizera” décadas atrás na África, ou coisa parecida.
Como Cunha teve livre conduto para tocar o impeachment mesmo diante de acusações colossais é um mistério. E que ainda terá que vir à luz e ser devidamente respondido.
No mais, Cunha deve a si próprio, e a ninguém mais, toda a desgraça que, enfim, o alcançou. Teve o que mereceu. Parabéns à sociedade organizada.