Os dados preliminares do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ) 2014, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do governo federal, mostraram que os homicídios entre os jovens brasileiros têm cor. De acordo com a pesquisa, as chances de um negro entre 12 e 29 anos ser assassinado é 2,5 vezes maior em relação aos brancos no país. Dos quase 30 mil jovens assassinados em 2012 no Brasil, 76,5% eram negros.
Os resultados do IVJ serão utilizados pelas Secretarias de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nacional de Juventude e também pela Secretaria-Geral da República, em parceria com a Unesco, para formular políticas públicas de combate a estes homicídios.
Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil, afirma que o racismo é uma das maiores causas do fenômeno social, classificado pelo movimento negro e organizações de direitos humanos como “genocídio”.
— O racismo alimenta a construção de crenças sociais e estereótipos que legitimam a existência de um “sujeito matável”. A indiferença da sociedade com relação a essas mortes – de jovens negros - é maior em razão de quem está morrendo: o jovem, negro e pobre. Há uma naturalização da morte de jovens negros por parte da sociedade. Como se a morte fosse o destino desses jovens — cometou Atila.
Resultado alarmante
Na análise por estado, o Nordeste reúne as quatro capitais com maior índice de vulnerabilidade juvenil: Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará. Nos casos de maior risco em detrimento da raça ou cor, a Paraíba aparece em primeiro lugar: são 13,4 vezes maiores os riscos de um jovem negro ser morto do que um jovem branco. Em seguida, aparece Pernambuco, onde o risco relativo é de 11,6, e em terceiro, Alagoas, com 8,7 mais chances de assassinato entre a juventude negra. Em todo o Nordeste, os jovens negros correm cinco vezes mais chances de serem mortos em relação aos brancos. No Rio de Janeiro, o índice é de 2,3.
O único estado da federação que apresentou risco maior para um jovem branco em relação ao negro é o Paraná, onde o índice é quase equivalente: 0,7. Os dados foram coletados pelo Fórum a partir do Datasus, em que o indicativo de cor (preto, pardo ou branco) é preenchido por agentes públicos de saúde.
No IVJ, foram analisados também índices como escolaridade, acesso a emprego e outros indicadores sociais. Na maior parte, os resultados demonstram que ainda há muito o que ser feito pela igualdade racial no país. Em 2014, a Anistia Internacional lançou a campanha “Jovem negro vivo”, em que apontava a urgência na inclusão das mortes entre os jovens negros na pauta dos Direitos Humanos.
— Os jovens negros brasileiros têm, via de regra, pior situação social e econômica e estão mais vulneráveis a situações de racismo e violência institucional, como tem sido comprovado por meio de pesquisas como o Mapa da Violência e o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência. As autoridades, em diversos níveis (Federal, Estadual e Municipal) devem implementar políticas públicas e programas na área de segurança pública integradas a outras políticas e programas que tem foco na juventude. É fundamental ampliar o acesso da juventude, e da juventude negra, a direitos e ampliar sua inserção na cidade melhorando sua qualidade de vida e oportunidades. Os dados coletados ao longo dos últimos 10 anos são contundentes em demonstrar um crescimento da ordem de 33% na taxa de homicídios de jovens negros, enquanto a taxa de jovens brancos se reduz praticamente na mesma proporção. A sociedade e o estado não podem mais fechar os olhos a essa tragédia que nos envergonha como cidadãos.