A reativação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, conforme articulação em andamento no Planalto, é recebida por representantes do movimento sindical como uma iniciativa promissora como instrumento de construção de novas políticas do governo Dilma Rousseff. Um dos maiores problemas de Dilma, a dificuldade de diálogo com a sociedade e seus inúmeros representantes, pode começar a ser gradativamente superado, se o CDES tiver uma composição representativa e for de fato encarado com seriedade pelo governo.
“Um dos grandes erros do governo (Dilma) foi ter desprestigiado esse fórum, que reúne pessoas importantes do movimento sindical, do empresariado e da sociedade. O fórum ajudou o presidente Lula a produzir projetos importantes em várias áreas, na cultura, na economia, no esporte. Todo governo precisa de ideias e projetos”, diz o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. “Mas tudo depende de quem comporá o conselho. Precisa ser mesmo representativo, que tenha lideranças. Se acertarem na composição, vai ser muito positivo para o Brasil.”
O fórum deve ser retomado oficialmente no próximo dia 28 de janeiro, quando o novo conselho deverá tomar posse. Segundo já apurado, antigos membros já receberam convites oficiais para compor o novo “conselhão”. O CDES é articulado pelo Ministério da Casa Civil, cujo titular é Jaques Wagner (PT-BA), que tomou posse no início de outubro justamente para “oxigenar” a frágil articulação política de Dilma.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região (filiado à Força Sindical), Jorge Nazareno, o Jorginho, as dificuldades político-econômicas atuais podem criar dificuldades para a evolução das propostas saídas do colegiado, mas a expectativa positiva é muito grande e realmente aponta para a superação do problema da falta de diálogo crônica de Dilma. “Com certeza, é um grande espaço, que ela deve explorar com um grupo bastante plural, com pensamentos que envolvem o movimento sindical, a academia, o terceiro setor, bancos, grandes industriais. É um conjunto muito rico, que qualquer governo deveria explorar”, afirma.
Segundo o sindicalista, os efeitos da instalação e funcionamento do conselho podem ser maiores do que se espera. “Esse fórum não só pode, como deve, estabelecer pontes com o Congresso e ajudar a deixar menos tensa a relação (do Legislativo com a sociedade e o governo) como é hoje.” Para Jorginho, membro do conselho desde o início do primeiro mandato de Lula, se o CDES tiver “o devido espaço para que possa se efetivar esse diálogo”, é grande o potencial de surgirem propostas para contribuir com o governo e com Dilma.
Também para Sérgio Nobre, o diálogo entre os diversos setores da sociedade e destes com o próprio governo pode trazer efeitos concretos, principalmente a superação da dificuldade da presidenta em dialogar com os setores seus aliados. “As universidades devem ter propostas importantes, como economistas, gente da área de administração. A iniciativa é excelente. Se o conselho for como um espelho da sociedade, é um canal mais fácil para ela dialogar”, avalia.
Na quarta-feira, o Planalto teria confirmado a participação do presidente do conselho consultivo do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, que integrou o CDES desde a primeira composição, mas tinha presença duvidosa em sua criação, já que tem sido bastante crítico da política econômica de Dilma.
Mas o secretário-geral da CUT aponta para a necessidade de Dilma e o governo corrigirem também o problema da comunicação, que está intimamente ligado à propalada falta de diálogo. “Tem que acertar no diálogo e acertar na comunicação também, conversar mais com a imprensa, dar mais entrevistas, defender o governo dela. É o que ela precisa melhorar”, diz Nobre.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foi criado no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003. Consolidou-se como o mais importante canal de diálogo entre o Planalto e a sociedade. Foi responsável pela Agenda Nacional de Desenvolvimento teve participação relevante na construção das chamadas medidas anticíclicas, que ajudaram o país a diminuir os efeitos da crise econômica mundial iniciada em 2008 nos Estados Unidos.