Em discurso no Pará no início da noite de hoje (30), a presidenta Dilma Rousseff usou um simbolismo para caracterizar o golpe de Estado que a afastou do Palácio do Planalto. “No passado, o golpe era como um machado cortando uma árvore. Hoje, é feito pela aliança oligopólica com a mídia, e toda essa corja de seguidores de Eduardo Cunha e do vice Michel Temer. Eles não querem e não vão usar o machado para cortar a árvore, eles vão atacar a árvore com parasitas e fungos. Esse é o golpe parlamentar”, disse, em ato pela democracia em Belém. “O golpe é tomar a árvore da democracia e infestá-la de parasitas.”
“Vamos nos manter mobilizados. Vamos nos manter atentos. Quando a gente grita, chia, eles voltam atrás. Se eu voltar no mês de agosto, ao voltar nós vamos reconstruir este país, vamos reconstruir a unidade entre nós, devolver os direitos que foram retirados, fazer a economia voltar a crescer e acabar com a tática do quanto pior melhor, a tática que eles plantaram para criar o ambiente do golpe. Agora estamos conscientes do que aconteceu.”
Ela lembrou que, em menos de 50 dias de governo interino, três ministros de Temer foram afastados por ser citados em denúncias relacionadas à Operação Lava Jato: Romero Jucá (Planejamento), Henrique Alves (Turismo) e Fabiano Silveira (Transparência, Fiscalização e Controle). Segundo Dilma, o país passa por um período em que “toda a história se concentra num momento”. “Está em curso no Brasil um golpe contra a democracia, contra os direitos individuais e coletivos, contra as políticas sociais, contra a afirmação do Brasil como nação soberana e contra nossas principais riquezas”, acrescentou, citando vários dos programas sociais e projetos desenvolvidos por seu governo, como o pré-sal e o Mais Médicos, ou políticas sociais representadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ameaçado pela política econômica de Temer.
Dilma mencionou a sugestão de golpistas e opositores para que renunciasse. “Por que cargas d’água eu deveria renunciar? Há uma suposição sempre falsa sobre as mulheres neste país. Que nós somos fracas. Nós não somos fracas.”
Ela voltou a afirmar não haver motivo jurídico para o golpe e que não pesa contra ela nenhuma acusação, ao contrário de seus adversários. “Mais uma vez faltam com a verdade. Eles nunca contam a história toda. Não há crime. Eu não tenho contas no exterior. Eu não roubei dinheiro público nem privado de ninguém, tenho uma vida pública limpa.”