Como se não bastasse o rolo compressor que o Governo Temer e seus deputados têm passado por cima de nossos direitos de aposentar, de trabalhar e até de morar; nos mesmos bastidores, bancadas conservadoras movem suas peças no campo dos costumes.
Silenciosos quando ganham, e barulhentos quando perdem espaço e diante do furacão de retrocessos, às vezes nem nos damos conta do tamanho da tragédia. São como serpentes famintas querendo engolir a diversidade, a arte e as diversas maneiras de pensar e ser.
Na semana passada, o Brasil todo acompanhou com indignação a decisão do Juiz que confrontou uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe os profissionais da área de aplicarem tratamentos como o de “Reorientação Sexual”, ou seja, um tratamento psicológico para pacientes que “não se sentem confortáveis em ser gays”.
O magistrado utilizou-se da noção de liberdade de exercício de profissão dos psicólogos. Parece piada, mas às vezes dão nomes bonitos a ações perversas e utilizam palavras como liberdade. Que ironia. As redes sociais ficaram tomadas por manifestações de apoio à liberdade de orientação sexual e de gênero. Houve manifestações de artistas, intelectuais e movimentos populares. Esse fervor também tomou as ruas, espalhando-se por todo o Brasil. Ao mesmo tempo em que parcelas menores, mas não menos assanhadas, bradavam pelo fim da “ideologia de gênero”, felizes pela decisão do juiz, pois essa ação é mais uma brecha aberta para validar a violência e o preconceito.
No país que mais mata mulheres, homossexuais, transexuais e jovens negros, essa decisão não fere somente a Constituição, mas também a possibilidade de combater o vetor do problema, que é o preconceito. Esse juiz não fala por si próprio, ele fala também por vozes que têm exercido discriminação por meio de gestos, palavras e também da omissão. Ele age favorecendo a intolerância e a violência.
Assistimos as faces de um país que dia-a-dia fenece sob os mandos de uma classe política, vestida de deputados, hipócritas defensores da família, mas que fazem esbórnia com o dinheiro do trabalhador, de uma classe econômica que tem tomado paulatinamente nossos direitos e exploram cada vez mais nossos corpos e nossos desejos.
Nesse cenário, a população que mais sofre é a que nunca deixou de sofrer – a classe trabalhadora. É preciso que entendamos que liberdade e intolerância não podem dividir o mesmo espaço.