O clima de ansiedade que marcou a campanha eleitoral de 2014 permanece no ar diante das ações da oposição pelo terceiro turno e isso ficou nítido na última reunião deste ano da Direção Nacional da CUT, na última quinta-feira (11) na região central de São Paulo. O sentimento reflete a expectativa dos movimentos sociais e sindical em relação à formação do próximo governo da presidenta Dilma Rousseff e à cobrança de um segundo mandato mais aberto ao diálogo e às propostas da classe trabalhadora.
Ciente disso, o presidente do PT, Rui Falcão, um dos convidados para a análise de conjuntura, afirmou que a bancada mais conservadora do Congresso Nacional exigirá do governo maior proximidade com o movimento sindical, que não deve restringir a participação ao Ministério do Trabalho, mas participar decisivamente também da condução da política econômica.
Para Falcão, esse diálogo entre governo e movimentos deve vir acompanhado de medidas concretas e o PT tem compromisso partidário de cobrar a presidenta para que coloque em pauta a montagem rápida de uma mesa de negociação permanente sobre o fim do fator previdenciário, a redução de jornada para 40 horas semanais sem redução de salário, a valorização permanente do mínimo e a reforma tributária, com a correção da tabela do Imposto de Renda.
Reforma política e da comunicação
Além das reivindicações acima, existe a pauta da reforma política, que está saindo de cena para ser substituída por uma concepção que pode trazer sérios prejuízos aos grandes partidos. “Se simplesmente acabar o financiamento privado, sem que aprovemos o financiamento público das campanhas, os maiores partidos, que mantêm fundações estruturadas e mobilizadas nacionalmente, com a produção de estudos, é que serão os mais prejudicados. Precisamos de um reforma política mais aprofundada, com bandeiras como o voto em lista com alternância de gênero. Esse é mais um tema que requer de nós mobilização e luta”, alertou.
Passo seguro – Atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ressaltou que a mobilização dos movimentos sociais será crucial não só para pressionar, mas também para dar segurança às transformações necessárias.
“O apoio da esquerda é fundamental para mostrar que a presidenta pode caminhar desse lado. Porque o que antes era motivo de constrangimento e vergonha, de assumir o conservadorismo, virou motivo de militância diante de um espaço que estava vazio. Mas a eleição trouxe a consciência à Dilma de que o governo deve ser mais aberto ao diálogo, não só com os excluídos, mas também com os representantes dos excluídos. O trajeto será difícil, mas a única alternativa para o governo é avançar.”
Pagar as contas sem frear o desenvolvimento
Diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio, afirmou que o papel dos movimentos sindical e sociais será disputar a política econômica para preservar o emprego. E, como disse Rui Falcão, é necessário que tenham centralidade no debate sobre essa pauta.
“Essa reorganização deve servir para sustentar o investimento público em infraestrutura econômica, com portos, aeroportos e estradas. A infraestrutura social, com a base na educação, saúde e transporte público. E servir para ampliar a capacidade do Estado em fazer o desenvolvimento industrial para que a agricultura, os serviços e comércio também cresçam. Todos os avanços devem estar combinados com a política distributiva que incrementa a capacidade do nosso mercado interno”, explicou.
Indústria e emprego
A avaliação de Lúcio é a mesma do movimento sindical, de que a recuperação econômica parte, fundamentalmente, da recuperação da política industrial e agrária. A segunda, inclusive, com a unidade de lideranças do setor.
Ele citou que alguns países sucateiam a mão de obra como forma de baratear o produto, como a China, que já terceiriza a produção para o Vietnã, e acredita que outros países irão mais a fundo, adotando a produção em nações como a Etiópia, onde a mão de obra é ainda mais barata.
Emprego
Clemente Lúcio citou também que a redução da geração de novos postos de trabalho formal, aliada ainda à alta rotatividade, tem contribuído para a diminuição, em 2014, da massa salarial e dos rendimentos médios. Segundo levantamento do Dieese, somente as atividades de agricultura, extração vegetal, caça e pesca e serviços têm crescido acima da média nacional (2,9%).
Em relação aos salários, segundo o Dieese, o cenário permanece positivo. De 512 negociações em 2014, 94,1% do superaram a inflação e somente 2,0% acumularam perda, resultado inferior apenas a 2012, quando 96,1% asseguraram a ampliação do poder de compra.
O diretor do Dieese destaca que as primeiras nomeações de Dilma dão um recado para a sociedade de preocupação com a responsabilidade. Mas ressalva que o desenvolvimento deve ter como base a produção e não a recessão.