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O bolsa-preconceito

Em sua edição da última terça-feira, dia 7, o jornal "A Gazeta" patrocinou na manchete de primeira página um flagrante desserviço à imparcialidade jornalística e à precisão da informação. Sob o título "Um verdadeiro 'bolsa-votos'", a publicação busca informar que a maioria dos votos obtidos pela candidata Dilma Rouseff no Espírito Santo foi nos municípios onde, proporcionalmente, o Bolsa-Família atinge mais pessoas.

Desprovida de verbo, a duvidosa e imprecisa frase nominal é construída em cima de flagrante adjetivação que implica, necessariamente, em juízo de valor por parte do jornal com relação aos votos dos eleitores beneficiados pelo programa social.

Frase nominal é aquela que prescinde de verbo, constituída, portanto, apenas por nomes. Nos mais elementares manuais de redação, é tido e sabido que esse recurso só se utiliza em títulos de artigos ou editoriais, pelo fato de carregar em sua construção uma explícita expressão de opinião.

Reza o bom jornalismo que verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas adjetivos e advérbios tendem a piorá-lo. Foi o caso de "A Gazeta".

A maioria dos leitores de um jornal lê apenas o título da maior parte dos textos editados. Por isso, ele é de alta importância. O título deve ser uma síntese precisa da informação mais importante do texto. Sempre deve procurar o aspecto mais específico do assunto, não o mais geral. Ou o título é tudo que o leitor vai ler sobre o assunto ou é o fator que vai motivá-lo ou não a enfrentar o texto. A edição de "A Gazeta" não faz uma coisa nem outra.

Ao titular "Um verdadeiro 'bolsa-votos'", além de evidenciar o aspecto mais geral da notícia em detrimento do mais específico o jornal não informa rigorosamente nada. Para que a manchete faça algum sentido ao leitor comum será necessário que ele complemente a leitura do título a do olho (oração negritada sobre a manchete) e a do leadão (informações complementares abaixo da manchete).

Mas o ataque às normas vigentes do jornalismo é o menor dos problemas na referida edição. Ao emitir julgamento de opinião sobre a convergência entre o Bolsa-Família e o resultado eleitoral do primeiro turno, o jornal "A Gazeta" faz coro com o pior do nosso racismo higienista e com a crescente onda separatista e segregacionista que vê nos grotões das regiões Norte e Nordeste assistidos pelo programa social um povo miserável, burro e morto de fome em contraponto aos bem-informados das regiões Sul e Sudeste.

A desprezível tese da "qualificação" do voto, corroborada pela edição de "A Gazeta", ganhou no final de semana um simpatizante de peso: nada menos do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista aos jornalistas do UOL Josias de Souza e Mario Magalhães, FHC classificou os 43,3 milhões de eleitores petistas como uma imensa massa desprovida de discernimento. “O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”, afirmou.

A edição de "A Gazeta" condena, subliminarmente, que a população do interior e das periferias urbanas, beneficiárias de políticas sociais ou detentoras de um posto de trabalho assalariado, vote concentradamente nos candidatos que sente identificado com o efeito dessas políticas em sua vida.

Curioso é que, em um passado nem tão remoto assim, quando essa mesma população, totalmente abandonada, votava majoritariamente na Arena, PFL ou no seu sucessor, o DEM, não era considerada “mal informada”. Quando começa a despertar sua consciência, aparecem essas formas discriminatórias.

Vivemos um país miserável e extremamente desigual, não muito diferente de boa parte do mundo. O conceito do Bolsa-Família como forma de amenizar a fome e a pobreza extrema é revolucionário. O que se pode discutir é a forma como é utilizada em período eleitoral. Mas se formos aceitar, como infere a manchete de "A Gazeta", que os beneficiários do programa social do governo petista estão a serviço da candidatura Dilma, cabe uma pergunta: e os eleitores que não usam o Bolsa-Família e votam em outras candidaturas, estariam a serviço de quem?

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Publicado em Artigos
João Batista dos Santos Soares

João Batista é suplente da diretoria executiva do Sindicomerciários ES.

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