O deputado estadual eleito José Carlos Nunes começou a respirar os ares sindicalistas em um ambiente de mudanças da concepção política do movimento sindical. Morador do bairro de Cobilândia, pretendeu voltar-se à tentadora carreira de jogador de futebol, dedicando-se aos treinos e conciliando o esporte e o trabalho, ainda muito jovem. Aos 19 anos ingressou nas Lojas Marcão e graças ao seu bom futebol foi convidado a integrar a equipe de vendedores das Casas Santa Terezinha por seu proprietário, Kleber Andrade, para disputar o campeonato dos comerciários pelo time de futebol dessa loja, um dos melhores do circuito.
Do quadro de empregados das Casas Santa Terezinha, Nunes conheceu Geraldo Dantas, membro do então grupo de oposição do Sindicomerciários. Era Dantas quem o mantinha informado da movimentação pelas conquistas e depois pelos rumos do Sindicato sob o novo sindicalismo. E foi nesse momento de sua vida que Nunes começou a perceber a importância da sindicalização, para além do uso das quadras de futebol.
Tendo participado da condução do Sindicato na gestão de Germano Quevedo como 2° secretário, Nunes se destacou na condução política do movimento num momento atípico da vida sindical: a interrupção do mandato por decisão judicial em fins de 1992, o impeachment do Presidente da República, Fernando Collor de Melo, e as mobilizações ocorridas no período, em particular a que os comerciários fizeram em 1994. Participava, portanto, de um grupo de diretores recém chegados ao sindicalismo e com pouca experiência política que teve de se organizar internamente para suportar o peso das responsabilidades das transformações que a conjuntura histórica impunha à entidade.
Por isso, o período de turbulências na sucessão do Sindicato serviu como experiência para o grupo liderado por Germano de Quevedo e seguido por Nunes na medida em que o capacitou para conduzir politicamente a composição das gestões seguintes e consolidou sua autonomia em relação às demais tendências cutistas dentro do Sindicato dos comerciários.
Ainda mais simbólica foi esta eleição da chapa encabeçada por Nunes porque a disputa política interna entre duas correntes cutistas ocorrida na eleição anterior deixara dúvidas se novos rachas inviabilizariam por completo a unidade até então conseguida em torno da liderança de Germano. Assim, a eleição de Nunes confirmou que a renovação do estatuto ocorrida em maio de 1994 foi a melhor estratégia para unificar a gestão sem aflorar divergências no seio do Sindicato.
Doravante, permanecia apenas o cargo do presidente que passava a ser ocupado por Nunes. Quanto ao recém-criado cargo de secretário-geral, este foi ocupado por Germano Quevedo que, por sua vez, demonstrou grande habilidade política e capacidade de articulação em nível nacional e internacional conferindo grande destaque e prestígio à entidade dos comerciários capixabas.
Dessa maneira, embora não representasse sua continuidade, a eleição e a posse da nova gestão representaram o êxito do novo sindicalismo vitorioso na eleição de 1982, que tinha cumprido seu papel histórico sem descuidar de possibilitar o surgimento de novas lideranças da base dos comerciários, retomando uma vez mais a tradição da entidade na formação de lideranças políticas de expressão na sociedade capixaba.