Com a preocupação de agradar o setor do agronegócio, com a promessa de adoção de medidas para aumentar a produtividade rural e, ao mesmo tempo, afastar a preocupação do setor com a possível influência da indicada a vice, Marina Silva, nas decisões relacionadas ao campo, o candidato do PSB à presidência da República, Eduardo Campos, abriu no último dia 6 de agosto a sabatina da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) com os presidenciáveis.
Para uma plateia de produtores rurais, Campos falou diversas vezes em diálogo. Ele prometeu, se eleito, comandar pessoalmente as políticas voltadas para o campo e fortalecer o Ministério da Agricultura. Aplaudido algumas vezes, o presidenciável elogiou o setor dizendo que o agronegócio tem “atenuado” os reflexos das crises econômicas na economia brasileira. “Firmo um compromisso com o agronegócio de fazer uma leitura dos últimos 40 anos do que fez o agronegócio brasileiro, sem preconceitos e sem ranços, com a capacidade de diálogo, que a minha caminhada comprova que tem”, discursou Campos.
Com um pronunciamento repleto de elogios ao setor produtivo rural, Campos prometeu aumentar os recursos investidos no campo aliado a uma política de seguro. Ao seu lado, igualmente aplaudida pelos tubarões do agronegócio, ninguém menos do que Marina Silva, candidata a vice da chapa do ex-governador de Pernambuco e reconhecida por suas críticas ao setor. Tudo fachada.
Candidata pelo PV à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, recebeu nas eleições de 2010 a surpreendente votação de 19 milhões de votos, algo superior a 19% do total de válidos no primeiro turno. Foi uma vitória indiscutivelmente individual.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2010 apostou na solução “nem, nem”: nem Dilma, nem Serra, sob a alegação de não estar disposta a fazer “concessões às estruturas partidárias tradicionais”. Posteriormente, ressurge com a proposta de fundar um partido para chamar de seu, o Rede Sustentabilidade. Perdeu, porém, o prazo de registro na Justiça Eleitoral e a chance de disputar a eleição em 2014 através de uma candidatura única, “sem a contaminação dos partidos tradicionais”, dizia ela, à época. A partir de então, começa a revelar as contradições, até então adormecidas, de sua polêmica personalidade. Deixou o PV e filiou-se ao PSB, partido tradicionalíssimo, presidido pelo governador Eduardo Campos (PE), político também tradicional.
Em 2012 Marina liderou poderoso lobby para que o código florestal não fosse aprovado da forma que estava. Entretanto, hoje ela se filia ao PSB, partido que votou majoritariamente a favor do código, sem vetos. O sucesso de Marina nas eleições de 2010 e o séquito que a segue desde a campanha consolidaram numa personalidade voluntariosa, mística e autoritária a ideia de que fora dela não há salvação. A forma como lidou com suas frustrações política nesse período expressa o personalismo resultante dessa trajetória pessoal e política. Além das contradições decorrentes de personalismo político – ou até em função deles – existem as contradições políticas que Marina leva consigo para um partido que, também em função do personalismo de Campos, é cheio deles.
Num momento em que o debate político não pode ser dissociado do debate sobre desenvolvimento e sobre tecnologia, os dois conservadorismos juntos são explosivos: como lidar, por exemplo, com o desenvolvimento das regiões mais pobres, que começaram a crescer com políticas de distribuição de renda, se persiste o veto à discussão da energia elétrica como matriz energética? Como lidar com questões relativas ao reconhecimento pleno dos direitos de minoria, se há um impedimento religioso da líder à discussão sobre o aborto, por exemplo? E como lidar com questões jurídicas que impedem o desenvolvimento da ciência se há um obstáculo religioso, por exemplo, às pesquisas com célula.
Historicamente, os partidos verdes, todas as vezes que privilegiaram o purismo de plataformas ecológicas sem levar em consideração as variáveis de progresso social, flertaram com a direita. Marina tende a isso, e seu grupo provavelmente a seguirá.
Ocorre que, para ela, esse é um caminho de algum conforto. Ela tem um perfil conservador inerente à sua adesão religiosa à igreja evangélica, e este é um dado de difícil conciliação com seu eleitorado de classe média alta, que tem outros conservadorismos, mas não o de costumes.