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Orgulho de ser comerciário

Jornada de trabalho extensa, banco de horas, trabalho aos domingos, vocação e ter o comércio como o primeiro emprego são unanimidades entre os comerciários brasileiros, que em 2012 somavam mais de 9 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

De acordo com o Dieese, a jornada média semanal é de 49 horas a 44 horas demonstrando que grande parte deles faz horas extras e trabalham aos domingos, ultrapassando a jornada vigente (44h/semana).

O rendimento médio é de R$ 882,43. Segundo o Boletim dos Indicadores do Comércio do Dieese, o valor dos salários é reduzido com a rotatividade, pois os novos admitidos ganham o correspondente a 93% do salário dos demitidos.

Conhecido como porta de entrada no mundo do trabalho, o comércio é assim visto por não exigir experiência e por ser um setor que gera um grande número de emprego movido pela aceleração da economia.

Em março de 2013, a categoria conquistou uma vitória importante: a regulamentação da profissão, que garantiu que a atividade ou função desempenhada pelos empregados do comércio venha especificada na carteira de trabalho. Além disso, o texto aprovado no Senado fixou a jornada de trabalho em oito horas por dia e 44 horas semanais.

Apesar de a lei garantir, o que a Contracs conferiu com comerciários de todo o Brasil faz um retrato da categoria muito diferente: com jornadas de trabalho extensas e sem função especificada em carteira de trabalho como relata Adriana da Silveira Gomes, funcionária há 21 anos no Carrefour em João Pessoa (PB). “Não temos mais a classificação dos cargos. Somos todos operadores. Na carteira não fica tudo que fazemos. Muitas vezes mudamos de função e não recebemos por isso. Somente a liderança, que se torna operador líder, que tem um aumento, mas mesmo assim continua sendo operador.”

Embora confirme o aumento de salário ao se tornar liderança outro comerciário de João Pessoa que preferiu manter-se anônimo nesta reportagem afirmou que fazia mais de oito horas por dia e não computava as horas extras. “Eu trabalho mais de 8 horas por dia e não recebo hora extra porque sou supervisor. Cargo de confiança recebe 40% a mais ao invés de bater o ponto. O gerente também.”

Sendo assim, a maioria dos trabalhadores do comércio alegaram ultrapassar a jornada legal de 44 horas com as horas extras. A comerciária de Osasco Cleinide de Souza Mozone afirma: “Normalmente trabalho das 9h às 19h porque sempre precisa fazer hora extra. Aos sábados eu entro às 11h.” Para a trabalhadora de Ipatinga, Marli da Conceição Rocha, a jornada é ainda pior em dezembro e em datas especiais. “Os horários são bem complicados. Nós saímos tarde, muitas vezes não tem mais transporte e é inseguro.” pontuou a comerciária da Santana Magazine.

A comerciária de Fortaleza, Fernanda Barcelos Faustino, que trabalha há três anos e meio na C&A não entende a composição de jornada de trabalho: “Eles explicam que durante a semana deveríamos trabalhar 7h20, mas só fazemos 7h e para compensar os 20 minutos trabalhamos uma hora a mais na sexta e no sábado. Mas eu não acho que isto esteja certo.” Além disso, a trabalhadora relatou trabalhar três domingos por mês, ultrapassando a jornada legal.

O trabalho aos domingos é outro problema apontado pelos entrevistados, principalmente por ser um dia em que a família se reúne. “Infelizmente tem que trabalhar, mas eu não gosto. A reclamação de não estar aos domingos em casa é constante.” disse Carlos Célio Silveira de Carvalho, comerciário da loja SofáCama em um shopping de Brasília.

Célia Cardoso Gomes, de Osasco, reiterou como negativo o trabalho aos domingos principalmente porque os filhos ficam tristes de não estarem com a mãe. “O cliente põe na cabeça que a loja está aberta e vai comprar aos domingos. Eu queria que o cliente se conscientizasse de que não trabalhar aos domingos seria uma boa opção para o trabalhador.”

O volume de vendas em alguns locais é tão grande, que os trabalhadores do comércio optam por trabalhar neste dia e aumentarem suas vendas e, consequentemente, seus rendimentos. “Eu vejo pelos vendedores daqui, eles querem ficar na loja. Muitos pedem para vir no domingo porque é um dia de muita venda e eles também são muito resistentes às compensações de folga durante a semana. Eles querem vir e vender mais.” relatou a comerciária de Brasília Hermília de Fátima Silva Dantas.

Natanaeli Santos de Oliveira, de Fortaleza, é um exemplo de trabalhadora que não trabalha mais aos domingos, no entanto não era contra: “Não me incomodava devido ao movimento que era maior.” Eliane Manzan da Silva, comerciária há 14 anos em Tocantins, também não trabalha atualmente aos domingos, mas não era a favor. “Já trabalhei aos domingos quando trabalhava em supermercado, mas é muito ruim. E na minha época não tinha folga para compensar e nem pagamento de hora extra. Se fosse escalada, tinha que ir.”

As jornadas extensas muitas vezes se refletem em algo que a Contracs luta como o fim do banco de horas. Em alguns locais, os trabalhadores podem escolher entre acumular horas ou receber as horas extras. No entanto, a Contracs entende que o banco de horas é prejudicial aos trabalhadores, principalmente por atender unicamente às necessidades dos patrões tanto no momento em que se acumulam as horas como no momento mais conveniente que elas devem ser descontadas.

Patrícia Aparecida de Jesus Lima, de Osasco, comerciária das Casas Bahia argumentou a favor do ponto eletrônico em relação ao banco de horas. “As horas extras entram no banco de horas, mas não podem virar o mês. A cada mês vira um novo banco de horas. Com o ponto eletrônico, o trabalhador tem este controle.” Ela afirmou ainda que as compensações não podem ser feita aos finais de semana e sábados não há folga na loja.

“A loja trabalha com banco de horas, não com pagamento das horas extras.” afirmou o comerciário também de Osasco Francisco Aedo Teixeira, que trabalha no Ponto Frio há 12 anos. Já a comerciária de Fortaleza, Amandia do Nascimento Moreira, relata o contrário: a loja em que ela trabalha, as horas extras são pagas. “Os horários aos sábados sempre extrapolam, mas as horas extras são pagas e não compensada com folgas.” relata a jovem de 22 anos.

Cristiane Rochael da Silva, de Uberlândia, destacou: “A gente faz hora extra. Mesmo o patrão pagando hora extra, a gente tem que desmarcar compromissos firmados para atender às necessidades do patrão. Eu prefiro pegar as horas extras em folga porque posso fazer os compromissos que não fiz enquanto estava trabalhando.”

Para solucionar os problemas de jornada extensa ou dos bancos de horas, a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços defende a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, sem redução salarial.

A trabalhadora de Tocantins, Dani Anderson Martins Rodrigues, de 29 anos, concorda: “Sou totalmente a favor da redução porque para que todos trabalhem 40 horas semanais será inevitável criar novas vagas de emprego e nós trabalharemos mais descansados, melhorando a qualidade.”

Yasser Campos Venâncio, de Ipatinga, compartilha da mesma opinião: “Sou totalmente favorável, investir na qualidade de vida do trabalhador é investir na qualidade do trabalho.”

Porta de entrada no mundo do trabalho, o comércio é muitas vezes o primeiro emprego para muitas pessoas, principalmente por não exigir experiência e aceitar trabalhadores muito jovens como é o caso da fortalezense Katiana Sheila da Silva, que escolheu atuar no comércio desde o primeiro emprego. “Eu escolhi o comércio porque eu não tenho faculdade. Foi o lugar que me aceitaram e eu descobri que gostava, não é só por obrigação.”

Já Ivaneide Alves de Carvalho, comerciária de João Pessoa, relatou que ingressou no comércio por falta de outras opções: “Eu gosto do que eu faço. Gosto de trabalhar com o público, por outro lado é complicado se adaptar ao ambiente do comércio. Para as mães que tem que deixar seus filhos com vizinhos porque não tem creche. O almoço também é complicado porque as empresas não tem nenhum refeitório para comermos.”

Ednamar Aparecida de Mello, de Uberlândia, iniciou no comércio e embora tenha passado em um concurso público abriu mão da oportunidade por se identificar com a profissão de comerciária: “Na época, quando a gente inicia, é o espaço que tem a melhor colocação pela idade e experiência. Comecei em 1981 em uma loja de móveis e o salário que ganharia lecionando no estado era igual ou no comércio ganharia até mais. Por já estar acostumada e me sentir segura, preferi me manter no comércio e não seguir para a carreira de educação no estado. Então vou me aposentar no comércio. Eu gosto, apesar da carga ser puxada.”

Denis Silva Figueiredo, de 37 anos, trocou o Maranhão por Brasília e teve no comércio sua primeira oportunidade na capital federal. “Não sou daqui e o comércio foi o meu primeiro emprego em Brasília. Como eu gostei, resolvi continuar trabalhando, mas eu também já recebi propostas para trabalhar em outras áreas, mas preferi continuar no comércio.”

Como muitos comerciários tem orgulho do que fazem, a Contracs atuou de forma incisiva na regulamentação da profissão, que foi adotado como resolução em seu 8º Congresso. Portanto desde agosto de 2010, a confederação luta em prol desta causa através de uma campanha pela regulamentação da profissão de comerciário e, por isso, acompanhou e discutiu com sua base e com os trabalhadores sobre sua importância e necessidade.

Para o presidente da Contracs, Alci Matos Araujo, a aprovação da regulamentação das profissões de nosso ramo é uma demanda justa, que irá contribuir no processo de negociação coletiva das categorias. No entanto, o projeto aprovado ainda não atende todas as necessidades reivindicadas pela categoria e, por isso, a Contracs continuará lutando para que mais direitos possam ser garantidos.

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Publicado em Notícias Gerais

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