Estava lá no olho do furacão do “Ocupa Brasília”. Eu vi. Se aproximava o cair da tarde da terça-feira, dia 29. Eu era um dos centenas de milhares de manifestantes entre dirigentes sindicais, estudantes universitários e secundaristas, sem-teto, representantes de movimentos sociais. Estávamos ali exercendo nosso legítimo e democrático direito cidadão de reivindicar investimentos em saúde e educação, bem como pressionar senadores para votar contra a PEC 55, que congela tais investimentos por 20 anos.
O ato, companheiros, também lembrou o estudante Guilherme Irish, militante do movimento estudantil contra a aprovação da PEC, morto no último dia 15 pelo pai por discordâncias políticas e ideológicas. Mas, na terça-feira, foi assim, companheiros, nos concentramos em frente ao Ministério da Educação, onde estudantes protestaram contra a reforma do ensino médio, prevista pela Medida Provisória (MP) 746, e partimos em passeata até o gramado do Congresso Nacional. Seguíamos pacíficos quando, de repente, tudo começou.
Eu estava lá, companheiros. Eu vi.
Vi a tropa de choque da Polícia Militar do Distrito Federal entrar em cena para desmobilizar com violência e brutalidade a manifestação, que seguia pacífica, com o uso de balas de borracha, spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
Companheiros, estava lá. Eu senti. Não dava para respirar naquele lugar. A mistura dos gases da pimenta com o lacrimogênio entra por nossos olhos e narizes. Impossível enxergar e respirar.
Companheiros, tínhamos adolescentes ali, quase meninos. Os tiros de balas de borracha eram à queima-roupa. Aquilo foi uma grande irresponsabilidade, companheiros.
Eu estava lá, eu vi.
Não havia um comando naquela ação de repressão, companheiros. Vi isso, eu estava lá. Havia, apenas, uma tropa fortemente armada e fanatizada. Falamos com tenentes, coronéis e não houve disposição para diálogo. Cada grupo teve uma decisão própria.
Ao contrário do que propagandeou a mídia golpista, companheiros, não incentivamos qualquer tipo de depredação do patrimônio público. Mas nos assustamos e ficamos perplexos com a polícia militar jogar bombas de efeito moral, gás de pimenta, cavalaria e balas de borracha contra estudantes, alguns menores de idade, que protestam pacificamente, um claro reflexo de um governo autoritário, ilegítimo e que não tem um mínimo de senso de diálogo.
Mas foi assim que aconteceu, companheiros. E esse é o meu testemunho como participante daquela grande manifestação, na condição de representante do Sindicomerciários e da Fetracs/Contracs/CUT. Testemunhei porque estava lá, no centro dos acontecimentos.
Companheiros, eu vi.