Não acredite em tudo que lê. A frase tão batida ainda é o melhor conselho para quem usa o WhatsApp e o Facebook com frequência. Atualmente, as duas plataformas digitais são as que mais propagam notícias e informações falsas, as chamadas ‘fake news’. Só no Brasil 100 milhões de usuários estão expostos as mais diferentes postagens maliciosas e de má-fé, que tem por intuito confundir, alarmar e até criar pânico na população. As notícias fake não tão antigas quanto a própria imprensa, que as publica por equívoco ou mesmo intencionalmente. Acontece que a internet, em particular as redes sociais, elevou o problema à enésima potência, na medida em que a sua lógica de monetização dos conteúdos publicados se dá pelo volume de "cliques", o que levou à criação de sites ou perfis dedicados exclusivamente a mentir ou distorcer informações.
O termo se popularizou graças ao presidente Donald Trump, cuja divulgação de notícias mentirosas foi central para sua vitória, no ano passado. No Brasil, o filho do ex-presidente Lula se transformou no dono do frigorífico JBS. A ex-presidente Dilma Rousseff tentou o suicídio ao se ver encurralada pelo impeachment. O delator Alberto Yousseff foi encontrado morto na véspera das eleições de 2014. O juiz Sérgio Moro é filiado ao PSDB. E os tucanos planejavam acabar com o Bolsa Família. Tudo notícia falsa. Fake news que poluíram as redes sociais e aplicativos.
Mais recentemente, a comoção causada pela execução da vereadora do Psol Marielle Franco e de seu motorista Anderson Pedro Gomes levou milhares de brasileiros às ruas, em atos massivos e espontâneos no Brasil e protestos fora do País. No mundo digital, o alcance do episódio também foi enorme e surpreendeu, inclusive, quem atua na área. Se a propagação da imagem de Marielle como liderança crítica às forças de segurança foi enorme, o contra-ataque também foi intenso, numa tentativa de desqualificar a trajetória militante da vereadora morta. Desde que descobriram o valor das redes sociais como instrumento da disputa política, por volta de 2013, os reacionários raramente haviam sofrido uma derrota tão fragorosa na batalha da opinião. Foi uma espécie de 7 a 1 a favor da solidariedade.
Logo no dia seguinte ao assassinato começaram a circular pelo WhatsApp áudios e fotos falsos que tentavam associar a vereadora ao crime organizado. Segundo essas fake news, Marielle teria sido casada com o traficante Marcinho VP. Na sexta-feira 16, o deputado demista Alberto Fraga, expoente da bancada da bala, deu vazão às mentiras. Em sua conta no Twitter, escreveu que a parlamentar era usuária de drogas, ex-esposa de Marcinho VP e eleita pelo Comando Vermelho. A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, endossou a mentira, que tem um histórico de ofensas a minorias e a “comunistas”, embarcou. A magistrada anotou que Marielle estava “engajada com bandidos” e repetiu a versão de que ela teria sido eleita pelo Comando Vermelho.
As fake news assumirão o protagonismo nas eleições de outubro. Mais do que nunca elas representam uma ameaça pulsante para o destino político/democrático da nação. Caberá ao eleitor verificar a origem daquela notícia, post, mensagem ou imagem que está compartilhando nos mais diversos meios de comunicação hoje existentes. É hora de o cidadão trazer para si a responsabilidade de fiscalizar a fonte da informação que está em seu poder para não fazer das mídias sociais, o principal terreno onde são espalhadas as fake news, uma terra de ninguém; até porque o Tribunal Superior Eleitoral e as autoridades policiais têm plenas condições de encontrar o propagador das notícias, seja por meio do endereço IP do computador, seja através de convênios que estes órgãos possuem com as gigantes da internet.
Mais do que nunca é hora de o eleitor ter a consciência do poder que tem em suas mãos: é dele o voto que elegerá os representantes responsáveis pelo destino político do país e, também, é dele a incumbência de fazer uso responsável das informações que possui ou que tem acesso. Embora esta última hipótese represente um pequeno ato, em verdade, não é; pois, neste momento pré-eleitoral o uso responsável das informações se constitui num importante ato de cidadania.